quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Monstro das Folhas




Meados de Outono, temperaturas mornas, mas agradáveis e convidativas. Serreleis tem um pouquinho mais de três quilómetros quadrados e cerca de 1200 habitantes. Tem uma linda praia fluvial e o magnífico monte de São Silvestre, o padroeiro da terra. Tem muitas árvores com filhos caducos, as suas folhas.

Terminando uma vida feliz e verde, a tristeza das folhas das árvores ia caindo ao chão, formando um tapete, que se estendia a tudo quanto era chão, para desgosto das pessoas da aldeia, zangadas e a protestar e até a ralhar.

Os empregados da Junta de Freguesia foram empurrados para a limpeza, ficando para depois de se decidir o que fazer com tanta filharada. Juntaram tudo numa montanha como a que tem o nome do santo da freguesia, que “depois, logo se vê”.

Dois dias depois, em reunião ordinária, uma das decisões tomadas pela Junta de Freguesia seria comprar um depósito próprio para se fazer a compostagem com aquele montão de folhas.

Numa noite calada, e pelo silêncio do escuro, o monstro Charlatão, pé ante pé, escondeu-se no meio das folhas sem que ninguém o visse. A ideia que ele tinha na cabeça era pregar um valente susto às pessoas que por ali passassem, por ser um brincalhão, por não ter mais que fazer e por ser muito feio.

Na noite seguinte, pelas nove horas, a tia Micas do Zé e o senhor António das Pipas vinham da matança de um porco em casa da tia Zira do Monte. Ao passarem junto do castelo das folhas, que valente susto que apanharam!

O monstro brincalhão saiu disparado como uma flecha e começou a atirar-se para a frente aos solavancos. A tia Micas e o senhor António, que ainda falavam de tantas gorduras do porco para fazer as chouriças, puseram-se aos saltos e aos gritos de Ah deurrei!, Ah deurrei!, Ah deurrei!

Então, o monstro Charlatão sossegou aquelas pessoas assustadas e disse-lhes para se acalmarem, que era só uma brincadeira de um urso brincalhão, que nunca tinha pensado que a reacção das pessoas fosse aquela, que quisessem desculpá-lo, se fizessem o favor.

Os amigos solidários da matança do porco ficaram a conversar com o urso e prometeram uma amizade para sempre.

Quatro dias mais tarde, o tractor azul e preto da Junta de Freguesia de Serreleis transportava o monte de folhas para o depósito de madeira, comprado novinho em folha.

Toda a gente comentava a simpatia e a educação do urso, que até sabia pedir desculpa.

Andreia Ribeiro

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O valor da amizade




Era uma vez um lobo que vivia num bosque sombrio e frio, rodeado de árvores secas e assustadoras.

Este lobo era diferente de todos os outros que sempre ouvimos falar pois era inofensivo e muito medricas. Até das folhas que caíam das árvores secas e que queriam brincar com ele tinha medo.

Não se dava com ninguém e estava sempre sozinho, tinha os olhos tristes como a noite e o seu pêlo perdera o brilho que possuíra outrora.

Tivera sempre uma vida solitária, pois não deixava que nada nem ninguém se aproximassem dele.

Até que um dia tudo mudou...

Uma manhã, enquanto passeava pelo bosque, ouviu um barulho vindo de um ninho que estava caído no chão.

Correu para lá e encontrou um pequeno passarinho de bico castanho e penas amarelas, estava ferido e sozinho tal como o lobo.

O lobo pegou no passarinho e levou-o para a sua toca, onde tratou dele, aqueceu-o e deu-lhe de comer.

Com o passar dos dias, o coração do lobo começou a aquecer pois foi ganhando sentimentos por este frágil animal que tinha ao seu cuidado.

Mas ele tinha consciência que um dia o passarinho teria de partir e ele ficaria de novo sozinho, portanto tentou lutar contra este sentimento que nascia dentro dele.

Um dia, ganhou coragem e disse ao passarinho:

- Sei que um dia terás de te ir embora e eu vou ficar com o coração destroçado pois já me afeiçoei a ti, por isso é melhor que partas já hoje.

O passarinho respondeu:

- Cuidaste de mim e deste-me a tua amizade quando mais precisei, vou ficar aqui para sempre contigo e deixarás de ser um lobo triste e solitário.

E assim foi, os dias do lobo deixaram de ser cinzentos e tristes porque agora ele tinha um amigo verdadeiro ao seu lado.

Claúdia Franco

O Morcego Loiro





Era uma vez um palácio perdido no meio da floresta… Estava abandonado porque o seu proprietário tinha morrido e não tinha filhos. Estava em ruínas e, numa das muitas salas escuras, vivia um morcego velhinho, gordo e loiro, pois os seus pais eram nórdicos.

Quando caía a noite, o morcego loiro deixava o palácio para se encontrar com a sua amiga coruja Cuca. Passearam pela floresta e perderam-se. Foram ter a uma quinta de lavradores. Desorientados, começaram a ver uns telhados, medas e fardos de palha, vinhas sem podar. Também havia campos em lavradio com ervas.

Começaram a sentir uma certa agitação e algum barulho. Olharam e viram muitos animais que dormiam: cavalos, vacas, ovelhas. Eram animais que tinham patas. Mas havia outros mais engraçados que também tinham asas.

O que será? – perguntou o morcego.

São galos, galinhas, pintainhos, perus e patos. – respondeu a coruja, que era sábia.

Não conhecia! Estão sempre dentro da cerca? Que estranho! – Acrescentou o morcego.

Claro que não! São aves domésticas e os seus donos soltam-nas durante o dia. As galinhas e as patas dão ovos para comer.

Então, minha amiga, nós somos aves selvagens.

Com esta conversa, o galo despertou e começou a cantar. Já eram cinco da manhã! O morcego assustou-se e começou a fugir, até porque já se viam as nuvens no céu. Partiu para a biblioteca do seu palácio que ficava na cave.

Mais tarde, o Loiro e a sua amiga Cuca foram pesquisar as outras aves da quinta, nas velhas enciclopédias do palácio.


David Parente

O Troca-Troca Agrafadinho





Era uma vez uma aldeia perdida no meio de Portugal onde viviam poucas pessoas. Numa bela tarde de segunda-feira, estava o Simão a espreitar pela janela, quando viu um monstro grande a andar com dificuldade, porque tinha as pernas trocadas. Assustou-se e foi logo a correr chamar a mãe.

Ninguém queria acreditar! Mas era mesmo verdade! Estava um monstro no meio da rua e até dizia olá!

- Mãe! O monstro tem uma bola! Olha, até tem vestida uma camisola da Selecção! Será que é português?

Engraçado! Até nem tem um ar muito assustador – disse a mãe.

O monstro tinha uma cabeça estranha: era um monitor sorridente. Era grande, tinha umas pernas compridas e finas, azuis e amarelas. Calçava uns sapatos grandes castanhos, mas não conseguia deslocar-se muito bem porque andava sempre com as pernas cruzadas. Os seus membros estavam unidos através de agrafos. Por isso, o Simão e o seu amigo, Rodrigo, que já estava junto dele a observar a novidade, baptizaram o estranho com o nome Troca-Troca Agrafadinho.

As crianças não resistiram à camisola vermelha e à bola de futebol e decidiram correr ao quarto do Simão para procurar a caderneta de cromos de futebol que tinham preenchido no ano anterior. Abriram a porta da rua, contra a vontade da mãe, e foram ter com o monstro que estava parado em frente à casa. Mostraram-lhe de perto a caderneta e o monstro ia folheando-a, tendo ficado entusiasmado diante da fotografia do jogador Deco. Até parecia que o conhecia ou que queira muito estar com ele! Por baixo da foto deste jogador, estava a morada e o contacto telefónico. O monstro não parava de olhar para o número e apontou para o telemóvel do Rodrigo. Este percebeu e decidiu ligar ao Deco.

O jogador nem queria acreditar, mas fez a viagem até à aldeia de Amizade para ver com os seus próprios olhos o monstro.

O Troca-Troca ficou tão emocionado que os seus olhos ficaram maiores, a boca começou a abrir, os braços começaram a crescer e disse:

- Deco, tu és a minha força!

O Troca-Troca Agrafadinho, que apenas via o Deco no seu monitor, pôde, finalmente, conhecê-lo ao vivo e a cores!

David Parente

O Monstro dos Agrafos





Era uma vez um Monstro dos Agrafos que vivia no buraco negro, assustador e frio da árvore Matilde.

Este monstro caiu de uma nuvem cinzenta, num dia de chuva e de muita trovoada. Com esta queda foi parar em cima dos troncos da árvore Matilde. Com o passar do tempo, habituou-se ao local e acabou por gostar de lá estar, esburacou, então, no tronco da árvore o seu novo lar.

O Monstro dos Agrafos saía da árvore à noite para assustar as pessoas da aldeia mais próxima. Quando estas se dirigiam para casa, ele aparecia e agrafava as pessoas às árvores para, desta forma, poder roubar o dinheiro que traziam consigo.

Os habitantes da aldeia viviam aterrorizados com estes ataques nocturnos e já saíam de casa prevenidos com um tira-agrafos para se conseguirem soltar assim que o monstro fosse embora.

O Monstro dos Agrafos não pretendia assustar ou fazer mal às pessoas, mas esta foi a única forma que encontrou para arranjar dinheiro.

Quando conseguiu juntar todo o dinheiro que precisava deixou de agrafar as pessoas. Ele queria viajar até à Ilha da Madeira para se reencontrar com uma antiga namorada chamada Diana que lhe “tinha agrafado” o coração.

Com o dinheiro conseguiu comprar o bilhete de avião e assim pôde voltar a ver a sua apaixonada. Trouxe-a consigo e viveram juntos e felizes no buraco da árvore Matilde.

Manuel Casimiro

O jardim encantado


Era uma vez um lindo dia em que o sol rebolava, feliz e divertido, no jardim encantado.

Olhou para cima e viu duas cabeças de meninas a voar pelo céu como dois balões, chamavam-se Teresa e Rosa e fugiam do cão Boby que as perseguia.

Ele queria apenas afecto pois sentia-se sozinho e triste desde que a aranha Patrícia o trocara pelo coelho Orelhas Moucas por este lhe ter oferecido uma pulseira de prata que brilhava tanto como o sol brincalhão que rebolava pelo jardim.

O cão Boby era muito apaixonado pela aranha e até já tinha comprado uma linda casa feita de pele e furada com lã preta para viverem juntos.

Mas a aranha Patrícia destroçara-lhe o coração, ao trocá-lo pelo boneco Orelhas Moucas.

Como se sentia infeliz o Boby...

Ao ver as meninas tentou aproximar-se delas para lhes oferecer a mais bela flor que existia no jardim encantado, mas elas assustaram-se e fugiram dele, flutuando pelo mágico céu azul.

O sol brincalhão que assistia a tudo isto resolveu dar uma festa no jardim para trazer tranquilidade àquele sítio maravilhoso.

Todos os habitantes se juntaram à festa e o cão Boby pôde explicar às meninas que só queria a amizade delas.

A festa durou horas e horas e todos se divertiram naquele lugar mágico.


Cláudia Franco

A ideia cabeluda




Era uma vez um jovem de 27 anos, muito trabalhador e que era secretário do gerente de uma empresa, na cidade de Braga.

Para além de escrever bastante com as suas canetas de colecção, usava o computador. todos os dias, fazia pesquisas na Internet, recorria ao hi5 e consultava o seu correio (Email).

Antes de ir trabalhar todos os dias de manhã, ia para o parque correr e fazer exercício de Atletismo. Como as suas sapatilhas estavam gastas, comprou umas novas da marca Adidas, na loja “sportzone”, e estava todo contente!

Tudo corria bem, mas o Simão tinha um problema: muita queda de cabelo. Estava com medo de ficar careca!

Pesquisou na Net e encontrou um remédio milagroso, que encomendou e chegou ao fim de uma semana. De seguida, foi ao cabeleireiro e aplicou o líquido. Estava confortavelmente sentado a ouvir um CD dos Irmão de Verdade, quando olhou para o espelho e assustou-se. O seu cabelo tinha crescido tanto, tanto que parecia a juba de um leão! E os caracóis? Como é que um cabelo liso se transforma em lã de ovelha!

Afinal, a ideia brilhante do Simão deixou-o desanimado porque não queria ficar com aquele carapinha, mas apenas disfarçar as falhas do cabelo.

Sónia Dantas