Meados de Outono, temperaturas mornas, mas agradáveis e convidativas. Serreleis tem um pouquinho mais de três quilómetros quadrados e cerca de 1200 habitantes. Tem uma linda praia fluvial e o magnífico monte de São Silvestre, o padroeiro da terra. Tem muitas árvores com filhos caducos, as suas folhas.
Terminando uma vida feliz e verde, a tristeza das folhas das árvores ia caindo ao chão, formando um tapete, que se estendia a tudo quanto era chão, para desgosto das pessoas da aldeia, zangadas e a protestar e até a ralhar.
Os empregados da Junta de Freguesia foram empurrados para a limpeza, ficando para depois de se decidir o que fazer com tanta filharada. Juntaram tudo numa montanha como a que tem o nome do santo da freguesia, que “depois, logo se vê”.
Dois dias depois, em reunião ordinária, uma das decisões tomadas pela Junta de Freguesia seria comprar um depósito próprio para se fazer a compostagem com aquele montão de folhas.
Numa noite calada, e pelo silêncio do escuro, o monstro Charlatão, pé ante pé, escondeu-se no meio das folhas sem que ninguém o visse. A ideia que ele tinha na cabeça era pregar um valente susto às pessoas que por ali passassem, por ser um brincalhão, por não ter mais que fazer e por ser muito feio.
Na noite seguinte, pelas nove horas, a tia Micas do Zé e o senhor António das Pipas vinham da matança de um porco em casa da tia Zira do Monte. Ao passarem junto do castelo das folhas, que valente susto que apanharam!
O monstro brincalhão saiu disparado como uma flecha e começou a atirar-se para a frente aos solavancos. A tia Micas e o senhor António, que ainda falavam de tantas gorduras do porco para fazer as chouriças, puseram-se aos saltos e aos gritos de Ah deurrei!, Ah deurrei!, Ah deurrei!
Então, o monstro Charlatão sossegou aquelas pessoas assustadas e disse-lhes para se acalmarem, que era só uma brincadeira de um urso brincalhão, que nunca tinha pensado que a reacção das pessoas fosse aquela, que quisessem desculpá-lo, se fizessem o favor.
Os amigos solidários da matança do porco ficaram a conversar com o urso e prometeram uma amizade para sempre.
Quatro dias mais tarde, o tractor azul e preto da Junta de Freguesia de Serreleis transportava o monte de folhas para o depósito de madeira, comprado novinho em folha.
Toda a gente comentava a simpatia e a educação do urso, que até sabia pedir desculpa.
Andreia Ribeiro
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