imagem Catarina Rodrigues - Polvo Amarelo
Rodrigo é um rapaz de dez anos de idade que vive
em Vila do Conde, uma cidade que se situa no Norte de Portugal. Banhada pelo
Oceano Atlântico, esta antiga cidade onde o rio Ave desagua possui importantes
monumentos e uma magnífica praia de areia clara e fina, com alguns imponentes
rochedos.
Mesmo em frente ao mar existe uma pequena casa
branca acinzentada; esta cor acinzentada deve-se ao desgaste da pintura das
paredes provocada pela erosão ao longo do tempo. É nessa pequena casa que vive
o Rodrigo, um rapaz de estatura mediana, pele morena, olhos verdes e cabelo
escuro encaracolado. A cor dos seus olhos confunde-se com o mar em dias de sol
e, o seu cabelo parece as suas ondas em dia de tempestade.
Mas, nessa pequena casa em frente ao mar não
vive só o Rodrigo, lá vivem também o seu pai, um homem alto, entroncado, com os
músculos bem visíveis, moreno e cujas rugas denunciam uma longa vida de
trabalho no mar. É que o pai deste pequeno rapaz é pescador de profissão. A sua
mãe não tem profissão, ou melhor, é “Dona de casa”, faz um pouco de tudo, além
disso também gosta muito de bordar e dedica-se quando pode às rendas de bilros
(típico da região).
Rodrigo é um grande admirador da natureza,
principalmente do mar, até inventou um pequeno poema dedicado ao mar imponente,
que é assim:
Ó
mar imponente
Que
importante que tu és
Alimentas
muita gente
E
o que recebes? Pontapés!
Pontapés!
Quero eu dizer
Muito
lixo, poluição
Como
eu gostaria de descrever
O
que me vai no coração
Um
dia, quando eu mandar
Vou
pedir à população
Ajudem-me
a limpar
Esta
tamanha confusão.
Nutre também uma grande admiração pelo seu pai e
pela sua profissão. Rodrigo gostava de um dia também se tornar pescador, mas de
peixes das profundezas.
Um dia, enquanto o seu pai arranjava as redes de
pesca, Rodrigo confidenciou-lhe que gostava de viajar pelo fundo do mar.
- Mas porquê pelo fundo do mar? – perguntou-lhe
seu pai.
- Gostava de ver com que cores o fundo do mar
está pintado. – disse Rodrigo.
- De muitas cores. – disse o pai.
- Sabes pai! Ontem o meu amigo Rui disse-me que
abriu cá em Vila do Conde uma escola de mergulho, naquela casa amarela que
esteve muito tempo em obras, junto ao Castelo.
- Ah! Já sei. E tu gostavas de praticar esse
desporto? – perguntou o pai.
-
Adoooooorava. – respondeu, cheio de energia.
- Não sei se na tua idade é permitido o
mergulho. – disse o pai.
Rodrigo franziu os olhos e não falou mais no
assunto.
Na semana seguinte no dia 20 de Maio Rodrigo
fazia 11 anos e, como todas as crianças da sua idade, andava entusiasmado,
afinal só se festeja o aniversário uma vez por ano.
- Bom dia filho. – disse o pai. – Parabéns. Hoje
é um grande dia e, eu e a tua mãe temos uma prenda surpresa para ti, mas não
está cá em casa. Temos de sair.
- O que é? O que é? – perguntou cheio de alegria
e curiosidade.
- Surpresa. Levanta-te e depois verás. –
continuou o pai.
Rodrigo levantou-se num ápice, lavou-se,
vestiu-se e pouco tempo depois estava à mesa pronto para tomar o pequeno-almoço.
Bebeu um copo de leite, comeu um pão com marmelada e uma pêra. Depois, calçou
as suas sapatilhas novas e foi ter com os pais à sala.
- Estou pronto. – disse. – Já podemos sair.
E saíram os três em direcção ao Castelo, que se
situa junto à foz do rio Ave. Pararam mesmo em frente a uma grande casa de cor
amarela, grandes portas e janelas e, com persianas brancas bem polidas. Virada
para a rua havia uma grande montra onde se encontravam expostos diversos
artigos de desportos marítimos como pranchas, fatos, óculos, barbatanas, …
- Entra. – disse o pai de Rodrigo. – O teu
presente está aqui.
Os olhos de Rodrigo brilharam tanto, quase tanto
como o Sol. Nem podia acreditar. Os seus pais ofereceram-lhe um equipamento e
inscreveram-no nas aulas de mergulho.
- Que bom, já vou poder ver com que cores está
pintado o fundo do mar. – disse com uma pequena lágrima no canto do olho,
devido à imensa emoção.
Rodrigo marcou a sua primeira aula para o dia
seguinte. Levantou-se cedo, mesmo antes do despertador tocar, arranjou-se,
tomou o pequeno-almoço e foi para a escola. No final das aulas correu para casa
em busca do seu equipamento e dirigiu-se para a escola de mergulho.
- Que desilusão! Pensei que já ia mergulhar
hoje. – disse Rodrigo.
- Nem pensar Rodrigo, antes de mergulhar tens
que assistir a algumas aulas teóricas. – respondeu o professor.
E assim, durante quinze dias o pequeno rapaz
assistiu diariamente às aulas teóricas. Aprendeu que é importante respeitar o
mar, assuntos relacionados com a fauna e a flora do fundo do mar, o equipamento
a usar, procedimentos e cuidados a ter durante o mergulho.
- Estas aulas foram muito interessantes. – disse
Rodrigo. – Aprendi imenso.
Até que chegou o dia mais esperado, o dia em que
Rodrigo ia dar o seu primeiro mergulho. Eram oito horas e quarenta e cinco
minutos e já Rodrigo se encontrava com o seu equipamento de mergulho na praia
em frente ao Castelo de Vila do Conde. Poucos minutos depois chegou o seu
professor.
- Já cá estás? Madrugaste! – disse o professor.
- Queria estar cá antes das nove horas, para
verificar se tenho tudo em ordem.
E assim, professor e aluno fizeram uma revisão
dos assuntos, verificaram o material, equiparam-se e mergulharam no imenso
Oceano Atlântico.
A aula correu bem, como previsto. Rodrigo sempre
apresentou um fascínio pelo mar, mas agora o seu fascínio aumentara ainda mais.
E todos os dias, durante meses, Rodrigo tinha aulas de mergulho teóricas ou práticas, com o
seu professor Gaspar.
Até que um dia, resolveu mergulhar sozinho.
Vestiu o seu fato de mergulho e deslocou-se para o local habitual. Fez uma
revisão dos assuntos importantes e também do material a usar e, mergulhou.
Rodrigo não quis afastar-se muito da costa, afinal era o seu primeiro mergulho
sem a presença do professor. Nadou, nadou, nadou, ora junto à areia, ora junto
às rochas, até que ouviu uma suave melodia sair de uma pequena gruta existente
nas rochas. Parou, depois nadou na direcção do som, e parou surpreendido. Nem
queria acreditar no que estava a ver. Dentro de uma das pequenas grutas encontravam-se
vários polvos a tocar e a dançar, com umas saias multicolores, feitas de algas.
Assim que os pequenos polvos se aperceberam da
presença do rapaz a música parou e todos fugiram para pequenos buracos
existentes no interior da gruta.
- Não fujam. – disse Rodrigo. – Eu não vos faço
mal, a música é linda e vocês dançam muito bem. Deixem-me também.
Mas ninguém apareceu. Então o rapaz foi para
casa. Durante toda a noite sonhou com a gruta e com o bailado que vira.
No dia seguinte, bem cedo, resolveu voltar à
gruta. Quando lá chegou encontrou um pequeno polvo sentado numa das rochas. Tinha
uns cabelos longos, olhos castanhos da cor do mel, uns tentáculos cor-de-rosa e
uma linda saia feita de algas.
-Bom dia. – disse Rodrigo. – Como te chamas?
Posso ser teu amigo?
Assustado o polvo estremeceu, mas respondeu:
-Chamo-me Polvita.
- Polvita! Que nome tão bonito. Então és uma
menina! – exclamou Rodrigo.
-Eu chamo-me Rodrigo e sou um rapaz. Vivo aqui
perto, mas em terra.
-Já ouvi falar de vocês. – respondeu Polvita
ainda um pouco assustada. – Disseram-me que vocês gostam dos polvos para comer.
- Eu não. – respondeu Rodrigo. – Eu só quero ser
teu amigo.
E assim deram inicio a uma longa conversa sobre as
coisas do mar e da terra. Rodrigo contou as peripécias da escola e Polvita as
peripécias das suas aulas de dança.
Nas
semanas seguintes, sempre à mesma hora Polvita e Rodrigo encontravam-se para
conversar, brincar, cantar e dançar.
Até que um dia, quando Rodrigo chegou à gruta,
não encontrou Polvita.
- Estranho. – pensou. – Ela é sempre tão
pontual!
Mas trinta minutos depois Polvita apareceu.
Parecia triste.
- Que susto! – Pensei que não vinhas. Aconteceu
alguma coisa? Estás triste?
- Estou. – respondeu Polvita. – Hoje acordei com
uma dor num dos meus tentáculos e vi que tem um papo. Olha para aqui.
- Que grande papo! Tens que mostrar à tua mãe e
ao médico, porque existem papos que se podem transformar em doenças graves e
sem cura. – disse Rodrigo.
- Mas eu não quero preocupar a minha mãe, além
disso também não gosto de ir ao médico.
E os dois, mais uma vez ficaram ali sentados nas
rochas a conversar sobre as coisas da terra e do mar. Foi assim durante várias
semanas.
Polvita não quis falar com a sua mãe sobre o seu
problema e, como seria de esperar o resultado foi o agravamento da situação.
Um dia, como habitualmente, Rodrigo foi ter à
gruta para mais uma conversa com a sua amiga, mas esta não apareceu. O rapaz
esperou, esperou, esperou, mas nada. Resolveu então voltar para terra, no
entanto seguiu um percurso diferente do habitual.
Parou de repente ao ouvir alguém chorar. Seguiu
o som e, encontrou Polvita numa poça das rochas a chorar.
- Que tens Polvita?
- É este papo que me dói muito e está maior. –
respondeu Polvita. – Já nem consigo dançar.
- Tens que mostrar à tua mãe. Esse problema tem
que ser resolvido. - disse Rodrigo.
Então, Polvita resolveu ir ao encontro de sua
mãe. Nesse mesmo dia foram ao médico mostrar o papo. Felizmente não era grave e
a situação resolveu-se numa semana.
E assim termina esta história.
Porto Rio
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