imagem de Micael Sousa - Baleia Big-bang
A baleia Big-bang
No Oceano Atlântico existe um conjunto de nove ilhas
Portuguesas chamado de Arquipélago dos Açores. Estas ilhas de origem vulcânica
fazem o encanto de muitas pessoas, habitantes e turistas que aí se deslocam
para as conhecer.
A sua constituição rochosa, rodeada de um mar imenso dão a estas
ilhas características únicas a nível de paisagem, fauna e flora.
Vários são os barcos de pesca que encostam ao cais carregados
de peixe fresquinho para alimentar a população.
Outras vezes são os navios que semanalmente ancoram nos seus
portos, cheios de turistas Portugueses e estrangeiros e que percorrem a pé ou
de carro as suas ruas curvilíneas devido à grande existência de montes e vales.
Muitos destes turistas vão também conhecer o mar e seus animais marinhos em
pequenos barcos.
Num lindo dia de verão, chegou ao porto da ilha do Pico um
navio cheio de turistas de várias nacionalidades, ingleses, franceses,
holandeses, suíços, espanhóis, portugueses, japoneses, e chineses.
No grupo de portugueses encontrava-se a família Silva, uma
família constituída por 6 pessoas: O Sr. Manuel, a D. Maria e os seus quatro
filhos (um rapaz e três raparigas). Esta família nunca tinha visitado estas
ilhas, pelo que todos se encontravam muito entusiasmados.
O filho mais velho deste casal, o Emanuel tem uma simpatia muito
grande por animais, principalmente por os animais marinhos, e estava desejoso
por fazer uma pequena viagem de barco por aquele imenso mar para observar as
baleias.
As filhas mais novas, a Elisabete, a Palmira e a Helena
adoram as paisagens na sua vertente mais pura e natural tanto de terra como do
mar.
Por todas estas razões, a família Silva resolveu fazer a tão
desejada viagem para observação das baleias.
No dia seguinte, bem cedo, a embarcação de nome Santa Rita
saiu com alguns turistas rumo a alto mar. Nessa embarcação seguia também a
família Silva, todos com os respetivos coletes de salvação.
O mar estava calmo, com uma ligeira ondulação. O dia estava
claro e, adivinhava-se um sol radiante.
A nove milhas da costa o barco parou e desligou os motores na
expetativa de rapidamente observar as baleias. Os seus passageiros mostravam-se
muito curiosos e atentos a qualquer movimento do mar.
Enquanto o tempo ia passando e as baleias tardavam em
aparecer, alguns turistas aproveitavam para apreciar uns petiscos, outros, os
fumadores, aproveitaram para fumar uns cigarros.
Nesse grupo de fumadores encontrava-se o Sr. Silva. Desde os
seus 19 anos que fumava. O seu filho Emanuel falava-lhe muitas vezes sobre os
malefícios do cigarro (o cigarro pode provocar doenças graves a nível pulmonar,
cardíaco, circulatório, renal e gastrointestinal) mas ele tinha muita
dificuldade em deixar de fumar.
Este rapaz, um apaixonado pelo meio aquático, não se cansava
de questionar a tripulação. Embora jovem não era completamente inexperiente na
área, era aluno do curso de mergulho. – contava ele ao subcomandante da embarcação.
Queria conhecer ao pormenor todas as espécies da fauna e flora destas águas,
que pesquisava em livros e sítios da internet, durante os seus tempos livres.
Uma das suas grandes preocupações consistia em saber se eram respeitadas as
leis de conservação e proteção da biodiversidade…
A norte da ilha do Pico vivia uma colónia de baleias, umas
adultas e outras jovens. Era um grupo divertido e bem conhecedor do fundo do
oceano Atlântico. Já viajaram por outros mares, mas era aqui que queriam
permanecer, nestas águas claras e com uma temperatura agradável para a sua
espécie, embora apresentasse alguma poluição.
Nesta comunidade existiam treze jovens baleias, muito amigas,
andavam sempre em grupo para evitarem o perigo. É que andar sozinho pode
tornar-se complicado. Juntas têm mais facilidade em detetar situações
perigosas. Os seus pais já lhes contaram histórias de baleias que foram
capturadas por seres humanos.
Big-bang é uma jovem baleia deste grupo. O seu nome foi
escolhido por sua mãe, logo que esta nasceu, pois o seu nascimento foi tão
rápido e estrondoso que pareceu uma explosão, idêntica ao Big-bang que deu
origem ao universo.
Perspicaz e curiosa, para esta baleia tudo servia para
explorar. Locais longínquos ou próximos, situações simples ou complicadas, tudo
servia para descobrir e aprender.
O tempo ia passando e não havia sinal de baleias.
- Temos que ter paciência. Por vezes é demorado. – dizia o comandante
Entretanto os turistas continuavam a comer, a beber e alguns
a fumar. Quando terminavam de fumar o seu cigarro, deitavam-no para o mar.
- Pai, não faças isso. Estás a poluir ainda mais o oceano. –
disse o Emanuel
Mas, o seu pai e os fumadores da embarcação não deram atenção
aos conselhos do Emanuel.
Entretanto, o comandante chamou a atenção de todos para a
agitação que se via não muito longe dali.
Todos se calaram. O único ruido que se ouvia era o do mar a
ser atravessado por um grupo de baleias.
- Que bonito! – disse Helena num tom muito baixo
E todos ficaram ali a contemplar esta maravilha da natureza.
Esse grupo de baleias era constituído por Big-bang e seus
amigos. Curiosos como eram, assim que viram a sombra da embarcação no fundo do
mar, resolveram logo investigar o que se estava a passar.
Passaram várias vezes próximo do barco, provocando-lhe alguma
agitação.
Entretanto, enquanto percorriam o espaço que envolvia a
pequena embarcação, Big-bang encontrou um dos cigarros que foram deitados para
o mar. Depois encontrou mais alguns.
-Ei, o que é isto? – perguntou Big-bang
- Não sei. – disse Oma, amiga de Big-bang
- Eu sei. – disse Cola – Eu vi uns humanos com isso na boca e
a deitar fumo. - Então vamos fazer
como eles. Deve ser bom. – disse Big-bang
E todas as jovens baleias se reuniram próximo de umas rochas
a fumar o resto dos vários cigarros que encontraram no fundo do mar.
Iam passando o cigarro de baleia em baleia, de boca em boca
porque não sabiam que com este comportamento podiam adquirir infeções orais e
problemas respiratórios.
Uns minutos mais tarde Big-bang começou com uma tosse
intensa.
- O que tens Big-bang? – perguntou Oma.
- Não sei. – respondeu esta com uma voz quase impercetivel
Todas as baleias ficaram preocupadas com tal situação. Nunca
tinham visto Big-bang naquele estado.
Levaram-na logo para junto dos adultos e, pediram ajuda.
- Vocês foram muito imprudentes. Não deviam apanhar objetos
desconhecidos, ainda por cima cheios de fumo e colocarem-nos na boca. – disse
Lusca o mais velho
– Não sabem que
os objetos que percorrem várias bocas, sem serem lavados ou desinfetados, podem
provocar infeções? Não sabem que os cigarros contribuem para o aparecimento de
doenças graves como: infeções respiratórias, cancro do pulmão e outros cancros,
doenças cardiovasculares e outras doenças? – continuou o mais velho
Todos ficaram parados, sem saber o que dizer. Estavam muito
preocupados com a saúde de Big-bang.
Entretanto, na pequena embarcação a desilusão era visível
pois inexplicavelmente deixaram de ver as irrequietas baleias.
- Que se terá passado? – interrogavam-se uns aos outros
Muito pensativo e conhecedor do comportamento destes cetáceos,
o Sr. Comandante disse – isto é muito estranho, tenho a certeza que ocorreu
algo de grave.
Imediatamente deu ordem a três homens da tripulação que se
equipassem para mergulhar. Quem quase desmaiou de felicidade e emoção foi o Emanuel,
que foi convidado a ir com a equipa (o subcomandante disfarçadamente tinha
obtido a autorização dos pais).
Ficou
deslumbrado com o que viu. No meio daquela imensidão de águas claras,
encontravam-se enormes rochas multicolores devido há grande variedade de algas
e recifes de coral. Mais á frente viu o que parecia ser um quadro pintado com
um número infindável de cores flutuantes, era uma grande variedade de peixes
distribuídos por enormes cardumes.
Entretanto descobriram o local onde se encontravam as baleias
reunidas. Ficaram a observa-las. Parecia que estavam reunidas numa aula em que
Lusca seria o professor.
Quase tudo parecia perfeito exceto a existência de pontas de
cigarro nas barbatanas desta baleia.
Perceberam então o que se estava a passar, pois a expressão
de Big-bang não deixava dúvidas. Esta baleia estava já com alguns problemas
respiratórios.
Subiram então para o barco onde se encontravam os seus
companheiros de viagem.
- Então, viram alguma coisa de estranho? – perguntou o
comandante
- Vimos. - disse o Emanuel – uma das baleias está com aspeto
adoentado. Fomos nós que lhes fizemos mal, pois havia uma grande quantidade de
restos de cigarro junto delas.
Todos ficaram tristes com a situação.
A viagem de regresso a casa foi feita quase em silêncio. No
entanto o Sr. Silva quebrou-o dizendo. - Aquele foi o último cigarro que fumei.
Já no fundo o mar Big-bang mostrava sinais de franca
recuperação. Todas as baleias resolveram festejar tal acontecimento, pois esta
é uma baleia jovem e forte.
Fizeram também uma promessa. Nunca mais pegariam em cigarros,
pois estes provocam mal-estar e doenças que podem ter consequências graves e irreversíveis.
Estas baleias num dia conseguiram perceber o que muitos
Homens em pleno século XXI não conseguem.
Escritores
Ana Paula Figueiredo & Pedro Emanuel Figueiredo
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