Máscara David Parente
Máscara Raúl Gomes
Sassai e Nirumbé eram muito amigos,
bom, diremos até mais do que amigos, namoradinhos de fresco, acabadinhos de
sair das mãos de artista de Raúl e David, meninos especiais e dotados para as
artes. Sendo estes meninos especiais, também o eram porque possuíam poderes
mágicos: Raúl encarnava a personagem do fantástico mago Merlim, e David vestia
a roupagem do incrível Feiticeiro de Oz, ainda que a residirem no sonho da sua
criatividade. Eles elaboraram um casalinho de máscaras muito diferente das
restantes que, seguramente, haveriam de formigar pelas ruas da cidade de Viana
do Castelo, no dia de carnaval, soalheiro, por certo.
Compete aqui esclarecer que Raúl e
David, respectivamente, o mago Merlin e o feiticeiro de Oz nos seus sonhos, já
cá se mencionou, fizeram nascer aquelas máscaras com muito amor. Um amor que
abrasava o céu, beijava o vento… Lindo, não é?
Assim de imediato as máscaras foram
batizadas: ela, Sassai, e ele,
Nirumbé.
Obviamente, como grandes mágicos que
eram, as suas máscaras ganharam vida própria logo após o seu nascimento, não
esquecendo, como já se aperceberam, a parte sentimental, amorosa… Nas mãos dos
nossos amigos, diziam as máscaras uma para a outra, “agora que te encontrei não
pretendo separar-me de ti”; saiba-se que as máscaras haviam rejeitado,
veementemente, serem separadas como pretenderam os seus criadores. Uma por esta
rua, outra por aquela…. Dirá quem aqui me lê, “o amor não é fácil para
ninguém”, não sejamos pessimistas, pressagio eu.
Retomando o início da nossa
história, um casal de máscaras, namoradinhos de fresco, acabara de sair das
mãos talentosas de Raúl e David, heróis virtuais em seus sonhos de criatividade
e imaginação.
O dia de carnaval despertara quente,
por isso, propício à brincadeira e ao desfile pelas ruas da cidade, aliás, como
o boletim meteorológico havia previsto e, ainda bem, desta feita,
não se enganara. Diremos mais, um dia com cheiro intenso a sol!
No princípio, o casal de máscaras
chocou um pouco o grupo das outras, porque todas bem aperaltadas com laços e
fitas, bocas de cereja, cabelos de fogo frisados, etc, etc, etc…
Entretanto, o desfile começou. Sassai
e Nirumbé riam-se a não poder mais, imaginem, com o medo que pregavam ao susto!
E as pessoas, com olhares enviesados como se dissessem, “esquisitas máscaras,
diferentes, nada bonitas…”
A certa altura do divertido dia, com
aquela grande confusão carnavalesca, Sassai tomba da mão de David. Cai, rola um
pouco pelo chão… e perde-se da vista do menino que grita: Sassai, Sassai!…
Nirumbé, por sua vez, amarra-se com
firmeza à mão do seu criador, deixando deslizar um olhar triste e lacrimoso
pela rua a fervilhar de multidão, nunca mais avistando Sassai.
O feiticeiro de Oz, como quem diz David,
ainda pensa recorrer aos seus dotes de mago dos sonhos, mas ele está muito
acordado no momento; mira Nirumbé que cabisbaixo deixa morrer o sorriso que se
transforma num esgar de dor, uma cicatriz de tristeza a riscar o seu rosto de
papelão às cores.
Por sua vez, Merlin, ou seja, Raúl, com
uma tristeza de pai que perde o seu filho, acaricia as barbas e o bigode de
Nirumbé numa tentativa de lhe fazer voltar o riso à boca bem escancarada, num
esforço de o compensar da sua perda.
De repente, uma chuva oriunda dum
céu polvilhado de nuvens irrompe das sombras negras como que solidárias com a
mágoa daqueles dois.
Raúl fica muito quieto, e enquanto a
roupa se encharca olha desalentado Nirumbé que se vai descolorindo, amolecendo,
transformando-se em papa amorfa de cartão, papel e tinta.
Pelas pedras da rua, um rio de cor
forma um charco de lágrimas, vermelhas.
Raúl e David observam as suas mãos
vazias sentindo de novo o sol a querer brincar ao carnaval, e sussurram como mágicos
que não são: Sassai Nirumbé…Sassai, Nirumbé…
escritora
Bernardete Costa,
2012.
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